O DUPLO EM A HORA DA ESTRELA
Resumo
Este artigo apresenta uma nova leitura do romance A hora da estrela (1977) de Clarice Lispector, no qual se objetiva identificar as manifestações da temática do duplo a partir de uma investigação acerca das duas instâncias criadoras que interagem na obra. Tais instâncias correspondem, no primeiro plano, ao desdobramento de Clarice num narrador masculino, em que a escritora cria Rodrigo S.M. como nova hipótese autoral para tecer a história que intenta revelar. Nessa observação, será averiguado o processo de construção do narrador como duplo autoral de Lispector. Já no segundo plano, tem-se a criação da personagem Macabéa empreendida pelo narrador, em que a dinâmica entre eu e outro se define pelas sensações simultâneas de estranhamento e identificação, acentuando a questão da alteridade que dispõe de uma intrínseca ligação com o tema do duplo (BRAVO, 2005). Assim, buscando evidenciar e compreender Macabéa como duplo do narrador, serão levadas em consideração as reflexões propostas por Mikhail Bakhtin (1997) em sua obra Estética da criação verbal, concernentes à relação de alteridade na produção ficcional, bem como as suas considerações acerca da ideia de que o sujeito se constitui somente em face ao outro.
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