A ESCRITA DO IMATERIAL EM ÁGUA VIVA, DE CLARICE LISPECTOR
Resumo
A presente pesquisa se propôs a analisar as aproximações entre o romance moderno e o sétimo romance de Clarice Lispector, Água Viva. Assim, foi elaborada uma pesquisa qualitativa por meio da revisão bibliográfica de materiais pertinentes ao assunto, abrangendo referências a respeito do gênero romanesco e sua elaboração na Modernidade, como Mikhail Bakhtin (2002) e Anatol Rosenfeld (2009), além do estudo crítico-biográfico da obra Clarice Lispector, que contou com autores como Nádia Gotlib (1995), Berta Waldman (2002), Affonso de Sant’anna e Mariana Colassanti (2013) e outros. Dessa forma, objetivou-se elucidar as tendências estéticas da produção romanesca moderna na obra lispectoriana, visto que, em Água Viva, Lispector subverte os preceitos tradicionais do romance, rompendo com o pensamento cronológico-linear e o espaço físico empírico, transfigurando o romance em uma experiência de linguagem que existe no limiar da dimensão psicológica. Água Viva tornou-se um dos romances mais experimentais da autora, possibilitando uma radicalização do monólogo interior da personagem-narradora. Essas observações demonstram que as experimentações estético-literárias de Lispector construíram uma dimensão psicológica caracterizada pela abstração das noções temporais e espaciais. Dessa forma, a autora produziu uma narrativa fundada em percepções imateriais, procedimento possível graças às novas formas de experimentação artísticas e sensíveis da modernidade.
Referências
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