PROBLEMAS DA POÉTICA DE MACHADO DE ASSIS

O VERBO DO VERME RUMINANTE EM TANATOGRAFIAS REMINISCENTES

Palavras-chave: Machado de Assis, Verbo do Verme, Tanatografia, Memórias Póstumas, Memorial de Aires

Resumo

Em exercício de Literatura Comparada, esta proposta analisa os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Memorial de Aires (1908), de Machado de Assis, tendo em vista a consolidação de fenômeno literário intitulado verbo do verme ruminante. Com o uso da expressão paronomástica, referimo-nos à linguagem corroída e inacabada estilizada pelo defunto autor (Brás Cubas) e pelo autor defunto (Aires). A discussão gira em torno da sátira tanatográfica, base da poética vermicular, e de sua atuação em desvelar práticas sociais que os monologismos autoritários do século pretendiam ocultar. Adota-se a metodologia e perspectiva dialógica (no sentido preconizado por Mikhail Bakhtin, 2010), na análise da linguagem contraideológica (Bosi, 2010), satírica e repleta de incertezas em Machado de Assis. O verbo do verme representa, em chave alegórica, a estilização do inacabamento prosaico que figura experiências humanas corroídas pelas intempéries do defunto século XIX.

Biografia do Autor

Augusto Rodrigues da Silva Junior, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil

Professor Associado de Literatura Brasileira da Universidade de Brasília. Coordenador da Cátedra Agostinho da Silva (UnB). Líder do grupo de pesquisa Crítica Polifônica: Teoria Brasileira da Literatura (CNPq/UnB).

Marcos Eustáquio de Paula Neto, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil

Professor substituto de Literatura Brasileira na Universidade de Brasília. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Literatura, da Universidade de Brasília (Poslit/UnB).

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Publicado
2024-09-10